Nina
gemeu inconsciente.
—
Ei, garota, acorda. — chamou alguém.
Ela
recebeu suaves tapinhas nas bochechas.
Virou
para o outro lado, ela estava deitada em alguma coisa dura e desconfortável,
enquanto seu casaco esquentava seus pés. Ela queria acreditar que tinha voltado
para casa, que aquilo tudo não havia passado de um sonho maluco, mas a voz lhe
era familiar e o cheiro de pão fresco preenchia o ar como na noite anterior.
Ela ainda estava naquele pesadelo. Só um
sonho, só um sonho!
Abriu
ligeiramente um dos olhos e topou com o vazio. Estava virada para uma parede
suja e úmida. A claridade batia de encontro a ela, incomodando seus olhos. A
mão novamente tocou sua pele, só que agora mais impaciente. Sua mão serviu como
proteção a iluminação intensa e mirou à imagem esguia e mal humorada do garoto
que conhecera tarde passada. Ele estava com outro livro na mão, quase na metade
de um exemplar de Shakespeare. Suspirou melancólica, pondo-se de pé quase que
imediatamente.
—
O que você quer comigo? — indagou agressiva.
Ele
deu de ombros, visivelmente confuso.
—
Não preciso da sua ajuda! Afogue-se em seus livros e me deixe em paz.
Marchou
para longe dele, suas mãos agarravam o casaco com força. O barulho vindo do
comércio abafava os chamados de... Qual era o nome dele mesmo? Ela tinha
perguntado, ele tinha dito? Não desistiu de suas pisadas violentas no chão de
terra. Que horas seria? Em que parte da cidade estaria? Quanto tinha andado
desde ontem? Seu celular estava sem sinal. Nenhum de seus aparelhos eletrônicos
funcionava. Suas roupas lhe deixavam com calor. Estava a ponto de gritar
consigo mesma, quando uma mão alcançou seus braços.
Era
ele, nem era necessário voltar-se para trás.
Suas
mãos não mais carregavam a obra de Shakespeare, sua cabeleira ruiva estava
bagunçada. Ficou esperando o que ele tinha a dizer, mas ao invés disso, ele lhe
estendeu um pão. Só de olhar para a casca dourada, dura e suculenta sua boca
salivou. Quis esconder essa urgência, mas o estômago a enganou. Estava sem
comer a tanto tempo que podiam lhe servir uma pedra com molho de tomate e ela
devoraria feliz. Ele aproximou o pão dela, sorrindo forçado. As covinhas
surgiram tímidas pelo canto de seus lábios.
Até
que ele era bonito.
Não
o bastante para atraí-la, é claro. Mas gostava de seus traços rígidos e o
formato triangular de seu rosto. As bochechas proeminentes, o queixo fino, a testa
larga. Seus olhos amendoados e grandes piscavam ansiosos, enquanto os cabelos
vermelhos balançavam disformes, caiam pela sua testa, escondendo ligeiramente
seus olhos. Uma cicatriz longa e profunda se arrastava pela pele alva, um pouco
abaixo da mandíbula. Desviou o olhar, constrangida. Havia passado tempo demais o
encarando. Apanhou o pão das mãos dele, sem tocar em sua pele, e mordeu um
pedaço do alimento cheiroso e quente. Estava uma delícia! Continuou a comê-lo,
a fome era voraz, o desejo de devorar aquele pão em instantes lhe era sufocante, mas
tinha medo de que lhe acabasse.
—
Desculpe se fui grosseiro ontem. Não foi minha intenção. — desculpou-se na
defensiva. — Mas você também tem sua parcela de culpa. Andar de costas não é lá
o modo mais esperto de se locomover. — soou irônico.
Nina
mastigou irritada.
—
Eu estou perdida! — alegou. — Quero voltar para casa.
—
Você se perdeu? — perguntou divertido. — Diga-me que está de brincadeira.
Ela
negou.
Estava
tão exausta — seus músculos doíam, seu estômago doía, sua voz saia rouca e
entrecortada. Nada estava certo. Longe de sua casa, longe de seu conforto,
longe de tudo que lhe fazia feliz. Apertou as mãos em punhos, assustada com o
que via. Era livro demais, mais do que ela vira em toda sua vida. Eles
descansavam por todos os lugares. Nunca se sentira tão apavorada.
—
Olha, eu posso te ajudar a procurar pela sua casa. — ponderou.
—
Já disse, não quero sua ajuda! Você é um idiota, sabia? — encolheu-se,
esbarrando em uma mulher que carregava uma criança no colo.
—
Você é bem inconveniente, minha linda.
—
Não sou sua linda! — afastou-se dele, ouvindo-o gargalhar à distância.
1 comentários:
Adoreeei, ai, esses homens que inventam apelidos do nada, mas senti que o dele foi um pouco possessivo, minha. hmmm
Adorei, e tem cara de que vamos gamar nesse rapazinho anonimo por enquanto.
AMEI NATYYY E JÁ QUEROOO MAIS
POSTA MAIS
PLEASSEEEEEEE
beijãooo
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