Ela escorregou
seus dedos pelas madeixas escuras e apertou-as com pujança e pretensão; ele cheira tão bem, pensou entorpecida,
acomodando o moreno entre suas pernas. Vibrações faziam-na suspirar satisfeita,
ao mesmo tempo em que uma fome abrasadora exprimia os lábios carnudos e
vermelhos contra os dela, sufocando-os em um frenesi desmedido e ansioso. Não
era o bastante, tinha de saciar sua vontade — sentia que poderia morrer se não
o fizesse.
— Eu preciso
de você. — sibilou rouca.
Ele pressionou
sua virilha na dela, esfregando-as tortuoso por cima da calça social que
vestia. — Você quer isso? — a voz reverberou carregada. — Me quer dentro de
você, Eduarda? — Como ele sabia seu nome? Ela não se lembrara de tê-lo dito,
assim como ele não tinha dito o seu. Atordoada, desvencilhou-se de qualquer
pensamento inoportuno que a trouxesse de volta para o ambiente gélido e hostil
do banheiro, ou para as vozes abafadas e contagiantes do outro lado da porta.
Sentiu uma fisgada leve no lábio inferior e gemeu; ele ainda esperava sua
resposta, as mãos coladas a lateral de suas coxas não se movimentavam para além
do vestido de seda, só persistiram em diminutos círculos por toda a extensão de
sua carne.
— Alguém pode
aparecer e... — tentou formular uma objeção.
O moreno
apertou suas coxas, sorrindo sombrio.
Ela pôde
analisá-lo mais atentamente; seus olhos eram incríveis orbes opacos e escuros —
nada do que vira se comparava aquele par de olhos negros —, a fisionomia dura e
cética tentava a ponta de seus dedos, desejava tocar a face angulosa e saliente.
Tocou. A pele morena brilhava sob seus dedos, gostava da sensação da barba
sobre sua pele — pinicava, arranhava.
— Ninguém vai
aparecer. — garantiu, observando-a estreitar os olhos, desconfiada. — Confie em
mim. Ninguém entrará, não enquanto nós estivermos aqui.
Não confiava
nele.
Mas assentiu.
Escorregou
suas mãos para os botões da camisa que ele vestia — eram tão extremamente
pequenos... Tão extremamente complicados. Inquieta, esticou os dois lados de
sua camisa, e botões escaparam soltos, caindo em um baque surdo no chão de
mármore. Havia estragado com sua camisa. Acariciou
o peito esguio e tencionado, os músculos contraídos estremeciam com o contato
das mãos pequeninas e, por vezes, tímidas. Ele a queria tão ousada quanto ele; regredira
naquela busca e, curioso para assistir a reação dela diante a ideia, afastou
sua calcinha e penetrou dois dedos dentro de sua intimidade. As unhas lhe
arranharam a pele das costas de forma prazerosa, ouviu o balbuciar surpreso de
Eduarda escapulir trêmulo e incoerente. Movimentou os dedos dentro dela rápido,
beijando e mordendo, ávido, a lateral de seu pescoço.
Ela desabotoou
a calça social preta, deslizando-a até o chão. Não podia esperar, não queria
esperar. Meu Deus, como desejava senti-lo preenchendo-a, permitir que os peitos
se chocassem exultantes... Ouvi-lo chamá-la por entre o êxtase profundo que
viviam juntos. Os lustres dispostos tremeluziram — em um segundo apagavam, no
seguinte, acendiam. O moreno tirou os dedos melados de dentro dela, escorregando
a calcinha pelas pernas de Eduarda. Os cachos loiros e femininos desprendiam-se
do rabo que fizera minutos antes, por fim, tamparam o beijo faminto como
cortinas douradas.
Ele investiu
em seu sexo.
Uma.
Duas.
Três vezes.
Os seios foram
expostos, rígidos e intumescidos, acariciados, os lábios tocavam a pele
sensível lascivos, experimentando de seu gosto adocicado e suave. As luzes voltaram
a piscar, agora, mais intensas e constantes. Eduarda, contudo, não temeu. O
calor lhe corroia, vertigens se embaralhavam a um prazer doloroso — quase
desagradável. Os movimentos abruptos e bruscos incentivavam-na a tocar no
moreno, a feri-lo, a aproximá-lo mais um tanto, mais um tanto, mais um tanto.
Não era o bastante. E ainda era a melhor sensação que lhe fora dada.
— Mais... Mais...
— repetiu entrecortada.
Ele
intensificou as estocadas, e suas mãos se arrastaram lânguidas até a coloração
escarlate de suas bochechas. Estudou a fisionomia doce, os traços leves. Uma
pontada de arrependimento. Outra. Mas o desejo não permitia que ele parasse.
Era bom demais, quente demais, forte demais. Prendeu seus lábios com os dela;
sugou-os com volúpia, ah, como é bom...
Como é doce.
Um arrepio
varreu a pele deles.
Naquele
momento, eram só corpo.
Só sensação.
Só êxtase.
O beijo abafou
a euforia; o moreno gemeu, agarrando-se ao corpo de Eduarda. As luzes se
apagaram por um ou dois minutos. Ele tinha sua cabeça descansada na curvatura
do pescoço da loira, sentia o seu perfume — baunilha e mel —, desfrutava
daquele seu tempo. Nunca quis tanto estar com alguém; nunca tinha gostado tanto
de estar com alguém.
— Como sabe meu nome? — as mãos acariciavam as
costas do moreno, desenvolvendo labirintos em espiral.
Ele demorou a
lhe responder, tinha a postura rígida. Ainda descansava dentro do calor confortável
de Eduarda, e não quis sair de lá. Movimentou seu membro cuidadosamente e
escutou o grunhido frágil vindo da loira. Parecia o ronronar de um gato.
Uma gata.
Ela se
enroscou em seu corpo.
— Eu sei tudo
sobre você. — abafou um riso.
— É? — ele
concordou com a cabeça. — E o que mais você sabe...?
Baunilha.
Mel.
Ela o fazia
falar.
— Sua cor
favorita é o amarelo... — beijou seu pescoço.
— Hum... Nada
mal. — sussurrou divertida. — Mais alguma coisa...?
— Você
trabalha em uma lanchonete... Perto daqui. — voltou a massagear seus seios,
agora, de forma mais branda.
Ela assentiu.
— Qual seu
nome? — a pergunta escapuliu trêmula.
Ele não podia
falar.
Mas queria.
Ele queria a
tudo quando perto dela.
Saiu de dentro
do calor úmido que o acomodara tão bem,
que o fizera se sentir tão bem. Tinha de parar, embora as mãos de Eduarda o
agarrassem enquanto os lábios rubros e inchados lhe pedissem para ficar. — A
gente tem que parar. — advertiu atordoado.
— Eu não quero
parar... — mordeu os lábios.
Cuidadoso,
tampou os seios dela com a parte de cima do vestido. Separou-se abrupto,
capturando sua camisa e observando o vestido de cor preta, justo, escorregar
pelas pernas de Eduarda, a calcinha se acomodar atrás deste. Ele a queria de
novo. Sua garganta ardia, o cheiro dela impregnado em suas roupas só o fazia
desejá-la mais.
— Você tem que
me prometer uma coisa. — ele estava
sério.
Ela sorriu
provocadora.
— Não vou mais
te ver?
— Não. —
respondeu. — Eduarda, preste atenção.
— Eu quero te
ver de novo. — contrapôs teimosa.
Vinícius se
aproximou, sua camisa aberta, os botões ainda soltos pelo chão de mármore.
— Não confie em você. — sua voz reverberou
severa.
— Do que você
está falando? — segurou o braço dele.
— Não confie
em você. — repetiu. — Eduarda, por favor, me escute.
— Estou
escutando! — exclamou. — Está me assustando... — emudeceu.
Seus olhos observaram
um brilho incomum alastrar-se pelos orbes antes negros. Era um brilho violeta. Nunca
vira nada parecido; azul, rosa, roxo. As três cores se embaralhavam, se
completavam. Lindo, e, decerto, assustador.
Ela — a cor — era
única.
Fazia Eduarda
pensar no nascer do sol; na sensação triste e nostálgica das manhãs de sábado,
quando acordava cedo para espiar o dia nascer. Mas aquelas duas bolotas
violetas eram mais intensas e incrivelmente mais vivas.
— Seus
olhos... — acusou.
O moreno tampou-os
por um segundo, e retornaram ao preto opaco.
— Como você
fez isso? Seus olhos, eles não... O que
você é? — desprendera seus dedos dele.
Temeu.
O desejo foi substituído
por um mal estar; Eduarda cambaleou para frente, confusa e desnorteada. Aqueles
olhos não eram humanos, não eram normais. E ainda que fossem surpreendentemente
atraentes e lindos, continham escuridão. Continham o vazio.
Não piscou,
sequer desviou o olhar. Tinha de se afastar... Tinha de sair daquele lugar. Foi
andando trôpega até a porta, forçou a maçaneta uma, duas, três vezes. Sentiu-o
tocá-la.
Recuou.
— O que fez
comigo? — questionou nervosa. — Você fez alguma coisa, não foi? O quê?
— Me desculpa.