Luca
sentou-se na poltrona de feltro, seus olhos examinavam Violeta. O quarto
acomodava o breu. As janelas tinham sido fechadas, a porta levemente
entreaberta trazia um vento gélido e pouco reconfortante. Violeta se mexeu. Os
cabelos curtos encostaram-se à face suada, causando-lhe um exaspero incomum.
Luca levantou, prevendo a euforia de Violeta, as mãos da mesma se tocavam a
procura de conforto, bagunçavam seus cabelos, apertavam suas pálpebras. Ela
lutava para despertar, e Luca foi até sua cama e segurou seus braços,
obrigando-a relaxar. Ele não previu o grito exasperado que ela soltara em
seguida, carregava dor. Balançou seus ombros, tocou em seus cabelos. Mas ela sequer
o chamou. Seus braços lutaram vorazes para se desprenderem dele, enquanto suas
unhas imputavam dor em si mesma, vincando-se sádicas em sua carne.
—
Violeta, pare! — chamou assustado. — Porra, acorda! O que você está fazendo? —
ela estava sangrando; as unhas haviam conseguido perfurar a pele de suas mãos.
Ele
soltou-a aturdido e observou Violeta arranhar seus braços, seu rosto. A imagem
fora tão assustadora que ele arfou, buscou por algum juízo dentro das frases abafadas
dela, mas ouvia somente o desespero, a ânsia, o nojo de estar sendo tocada por
ele. A mente dela trabalhava em um cenário obscuro, macabro e caótico. Dor.
Dor. Dor. Sua pele queimava. Sua garganta ardia. Luca, ela precisava de Luca.
Precisava daquele calor, do aconchego de seus braços, de seu silêncio. Alguém
gritava dentro de sua cabeça; alguém a machucava. Mas quem? Onde ela estava?
Gritou ao experimentar das mãos desconhecidas desferindo tapas em sua face,
tapas que lhe trariam marcas. Agora ele a tocava nos braços, dizia para parar.
Parar com o quê? O que ela tinha feito? Debateu-se, impedindo que seu agressor
voltasse a feri-la. Ela tinha de encontrar um jeito de seu comunicar com Luca.
Ele sabia que ela corria perigo? Suas pernas se contorceram, desprendendo-se da
do homem em cima dela. Pediu por socorro. As casas vizinhas talvez a ouvissem,
embora ela estivesse com portas e janelas trancadas. Rugiu.
—
Violeta, pare! — a voz lhe disse de novo. — Me escuta! Acorde!
Acorde.
Forçou
seus olhos e encontrou um par de orbes negro.
Luca.
As
costas dele curvaram-se exaustas, mas suas mãos ainda mantinham-se em volta dos
braços dela. Ele tinha de ter certeza que Violeta não voltaria a se machucar,
não suportaria vê-la se contorcendo na agonia que ela própria causava a si.
Lágrimas.
Ela
estava chorando.